XXIX Encontro Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental 2020

Dados do Trabalho


Título

COMPORTAMENTO VERBAL: DESAFIOS CONCEITUAIS DA PROPOSTA DE SKINNER.

Resumo geral

Ao propor analisar funcionalmente os comportamentos resumidos pelo rótulo de linguagem, Skinner rompe com os modelos tradicionais e defende a pertinência da aplicabilidade das relações funcionais obtidas em estudos com não humanos para a descrição do comportamento verbal. Skinner sugere que o comportamento verbal não se distingue dos operantes não verbais pela sua natureza, de modo que os princípios comportamentais seriam suficientes para analisá-lo. Todavia, o comportamento verbal recebeu tratamento diferenciado por Skinner, principalmente com a proposição de amplas categorias de operantes verbais definidas com base nas variáveis de controle e na topografia da resposta. O tratamento diferenciado ao comportamento verbal não agradou a todos os analistas do comportamento. Alguns simplesmente desconsideraram a existência da obra, analisando os comportamentos verbais da mesma forma que analisavam os comportamentos não verbais. Outros questionaram a utilidade e a pertinência dos conceitos propostos. Porém, após quase 30 anos de atraso em relação à publicação do livro “Verbal Behavior”, a proposta de Skinner passou a ocupar o léxico de analistas do comportamento. Esse simpósio tem por objetivo discutir as controvertidas definições dos conceitos e teses propostas por Skinner e pensar em definições alternativas que tragam menos problemas conceituais para o seu uso e ensino. Inicialmente será abordada a própria definição de comportamento verbal, assim como os conceitos relacionados a ela, como falante, ouvinte, reforçamento mediacional e comunidade verbal. Em seguida, serão abordados os diferentes tipos de operantes verbais e como suas definições podem fracassar em não abranger as ocorrências e em excluir as suas não ocorrências. Por fim, será debatida a noção de independência funcional entre operantes verbais a partir de erros de categoria, de acordo com os quais se presume a existência do operantes verbais a despeito das ocorrências que se destinam a resumir.

Resumo participante 1

Skinner define comportamento verbal como um comportamento operante mantido pelos efeitos que produz nas outras pessoas e, ocasionalmente, na mesma pessoa que o emite. Além dessa característica, o comportamento social, para ser considerado verbal, requer que a pessoa que emite a reposta verbal (i.e., falante) e a pessoa que tem seu comportamento afetado pelos estímulos verbais providos pelo falante (i.e., ouvinte) pertençam a uma mesma comunidade verbal. A comunidade verbal pode ser definida por um grupo de pessoas que apresentam certa conformidade entre a emissão de respostas verbais de data topografia sob controle de variáveis ambientais quando se comportam como falante; e que, ao mesmo tempo, reagem aos diferentes estímulos verbais também com certa regularidade. São as práticas de reforçamento da comunidade verbal que estabelecem e mantêm comportamentos de falante e ouvinte. Caso o falante e o ouvinte não tenham passado pelo treino na comunidade verbal, não é possível a ocorrência de interação verbal entre eles. A definição de comportamento verbal representou uma grande mudança quanto ao modo como a linguagem vinha sendo tratada, uma vez que deu ênfase às variáveis de controle do comportamento do falante individual. Isso possibilitou um estudo e análise de muitos dos fenômenos descritos pelo rótulo de linguagem com o uso dos princípios comportamentais. Todavia, a definição de comportamento verbal fracassa em dar segurança na categorização de casos limítrofes, como a interação com máquinas e animais não humanos, por exemplo. A definição de comunidade verbal também é de difícil compreensão, uma vez que embute as definições de comportamentos de falantes e ouvintes. Ao mesmo tempo, as definições de falante e ouvinte também pressupõem uma comunidade verbal. Esse trabalho, portanto, tem como meta apresentar essas definições, assim como, discutir as suas fragilidades, iniciando uma que tenha o potencial de gerar definições mais precisas e menos controversas.

Resumo participante 2

A definição de operantes verbais, realizada por B. F. Skinner, em termos de suas variáveis de controle, constituiu um importante avanço conceitual para a compreensão da linguagem em termos analítico-comportamentais. A despeito deste avanço, algumas definições de conceitos relacionados ao comportamento verbal parecem, em algum grau, dificultar a identificação dos fenômenos aos quais estes conceitos se referem. Neste sentido, tais conceitos careceriam ainda de alguma atenção no sentido de verificar se precisam de uma revisão ou não. Alguns exemplos são: (a) mandar o comportamento de tatear faz com que o tato deixe de ser tato?; (b) é necessário/útil falar de operações motivacionais para definir uma fala como, por exemplo, "apague a luz" como um mando? (c) até que ponto distinguir um comportamento com base em operações motivacionais não seria um exemplo de uma explicação cognitivista? (d) considerada a definição de tato, é possível tatear propriedades de um outro comportamento verbal (e.g., "Que poema bonito")? Este trabalho tem como objetivo fazer algumas reflexões sobre os conceitos de tato e de mando, comparando suas definições com exemplos e usos extraídos da literatura e de exemplos cotidianos.

Resumo participante 3

Uma das implicações de visão de Skinner acerca do comportamento verbal é a de que o que se aprende ao se aprender uma resposta verbal não é um significado intrínseco à topografia, mas sim a emissão de uma dada resposta sob controle de contingências específicas. Tal noção leva a suposição de independência funcional entre operantes verbais, a ideia de que uma topografia de resposta aprendida sob determinadas condições (e.g., mando) não seria emitida em outras condições (e.g., tato) sem treino direto. Os dados empíricos, normalmente, dão suporte a esta suposição, contudo são corriqueiros dados individuais que refutam a independência funcional. Tais dados têm sido atribuídos a uma história pré-experimental ou à falta de controle experimental. Todavia, uma confusão conceitual da área pode ser a principal responsável pela falta de homogeneidade dos resultados de pesquisa. Operantes verbais devem ser entendidos como categorias de padrões de contingências que englobam diferentes relações comportamentais, sendo unidas por algumas similaridades funcionais. A literatura, por outro lado, mostra que os operantes verbais têm recebido o tratamento de padrões comportamentais, assumindo que os organismos aprenderiam genericamente a mandar, tatear e assim por diante. Este tratamento é discutido enquanto erro categorial, no sentido proposto por Gilbert Ryle, em que rótulos de categorias (operantes verbais) são entendidos como algo para além de meros nomes que resumem os eventos por eles nomeados, o que levaria a uma expectativa de uniformidade nos dados não demostrados pelos estudos da área. A mudança de entendimento do conceito de operantes verbais levaria a uma alteração no foco de análise para além das grandes variáveis controladoras das respostas verbais (i.e., as explícitas nas definições dos operantes verbais), permitindo uma compreensão menos dos dados divergentes na literatura de independência funcional para além dos problemas de controle experimental.

Palavras Chave

Palavras-chave: Behaviorismo Radical; Comportamento Verbal; Análise Conceitual.

Minicurrículo do proponente

O Prof. Dr. Carlos Augusto de Medeiros formou-se psicólogo, mestre e doutor pela Universidade de Brasília. Atualmente é professor titular do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB. Desde 2011 atua no UniCEUB como docente e orientador do Curso de Mestrado em Psicologia do UniCEUB. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Análise do Comportamental Clínica e em Análise Experimental do Comportamento, trabalhando principalmente com os seguintes temas: comportamento verbal, psicoterapia analítica-comportamental (Psicoterapia Comportamental Pragmática), comportamento governado por regras e controle social do comportamento. É autor, juntamente com Márcio Borges Moreira do livro: Princípios Básicos de Análise do Comportamento.

População envolvida

Discussão teórica

Perfil do público-alvo

Profissionais, estudantes de final de curso de graduação e estudantes de pós-graduação.

Área

Análises conceituais, históricas e filosóficas

Autores

CARLOS AUGUSTO DE MEDEIROS, Márcio Borges Moreira, Lucas Ferraz Córdova