XXIX Encontro Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental 2020

Dados do Trabalho


Título

PROPOSTAS BRASILEIRAS PARA A TERAPIA FUNDAMENTADA NOS PRESSUPOSTOS FILOSOFICOS, CONCEITUAIS E METODOLOGICOS DA ANALISE DO COMPORTAMENTO: A) TERAPIA POR CONTINGENCIAS DE REFORÇAMENTO; B) TERAPIA MOLAR E DE AUTOCONHECIMENTO E; C) PSICOTERAPIA COMPORT

Resumo geral

A complexidade do comportamento e suas múltiplas variáveis de controle tornam o trabalho clínico um grande desafio para os profissionais da área. Muitas possibilidades de análise e intervenção estão presentes em qualquer processo terapêutico. Há muitas propostas de sistematização e condução na psicologia clínica, entre os quais destacam-se os modelos comportamentais. Dentre estas formas, algumas apresentam pressupostos filosóficos, conceituais e metodológicos diferentes e até incompatíveis. Estas variedades também têm sido observadas nos modelos clínicos. Propostas alinhadas com os pressupostos do behaviorismo radical surgiram depois que as técnicas derivadas do condicionamento operante vinham sendo empregadas em ambientes mais controlados. No entanto, as inúmeras possibilidades de análises e intervenções na clínica e a forte tradição derivada do controle experimental podem ter contribuído para a dificuldade no surgimento de sistematizações abarcassem a complexidade dos comportamentos relatados no consultório. Isto têm favorecido o surgimento de propostas nas últimas décadas. No Brasil, com a vinda de Fred Keller nos anos 1960, a análise experimental do comportamento e o behaviorismo radical tornaram-se uma forte referência. Dentro desse referencial e sem modelos padronizados, terapeutas foram construindo formas independentes de trabalho. Nos últimos anos surgiram as propostas dos professores Hélio Guilhardi, chamada de Terapia por Contingências de Reforçamento; João Marçal, chamada de Terapia Molar e de Autoconhecimento; e Carlos Augusto de Medeiros, chamada Psicoterapia Comportamental Pragmática. Este simpósio, vem apresentar e discutir estas propostas, avaliar aspectos convergentes, complementares ou divergentes entre elas e em relação a outros modelos clínicos provenientes do cenário internacional.

Resumo participante 1

A Terapia por Contingências de Reforçamento é uma prática psicoterapêutica dentre
várias que se denominam Terapias Comportamentais. Sua particularidade é o estreito
e restrito vínculo com a Ciência do Comportamento e com o Behaviorismo Radical
skinneriano. Propõe-se a lidar sempre exclusivamente com o comportamento –
interessa-se sim pelos comportamentos e sentimentos do cliente -; no entanto, esse
interesse se dirige aos determinantes dos quais eles são função, quais sejam as
contingências de reforçamento. As contingências de reforçamento são o instrumento
que habilita o psicoterapeuta a identificar a origem das dificuldades e sofrimentos
daqueles que procuram ajuda e a alterá-las na direção de uma melhor qualidade de
vida para a própria pessoa e para aqueles que lhe são significativos. O cliente não é
conceituado como indivíduo, mas como integrante de um grupo social com o qual suas
mudanças devem se harmonizar para o bem comum. O psicoterapeuta é catalisador
do autoconhecimento do cliente e fonte de conceitos que permitem a este
compreender por que sofre e a emitir variabilidade comportamental que pode ser
selecionada por consequências, o que resulta em viver melhor.

Resumo participante 2

A aplicação dos princípios operantes derivados da análise experimental do comportamento é um grande marco na história da terapia comportamental. O paradigma operante descreve a tríplice contingência antecedente, resposta e consequência, com inúmeras variações. O rigor do controle experimental, no entanto, requer naturais restrições no estudo destas relações operantes, de forma que os elementos da contingência sejam normalmente estímulos e respostas específicos e transcorram num determinado período de tempo, com contiguidade temporal. A especificação dos elementos da contingência, também têm estado presentes na análise aplicada do comportamento, que ocorre em ambientes circunscritos, com manipulação direta de variáveis ambientais e focadas em mudar comportamentos-alvo. O raciocínio clínico nas terapias verbais foi tradicionalmente influenciado por estas análises episódicas e restritas. As técnicas comportamentais operantes, incluindo as aplicadas em consultórios, tendem a analisar o fenômeno comportamental a partir de contingências episódicas e restritas, o que aqui seria denominado análise molecular. Por exemplo, o terapeuta analítico-comportamental, em sua formação, aprende a fazer relações funcionais a partir de situações tais quais um estímulo x, antecede uma resposta y, produzindo uma consequência Z. Isto favorece com que o olhar clínico fique vinculado ambientes mais restritos na vida da pessoa. A Terapia Molar e de Autoconhecimento tem como objetivo ampliar o alcance dessas análises de contingências e tornar mais efetiva a interpretação e a intervenção clínica com base nos princípios da AEC. Este maior alcance, que não exclui a análises de contingências episódicas, decorre da (a) ampliação do controle de estímulos antecedentes, identificando propriedades em comum que estejam presentes em diferentes contextos e (b) extensão do entendimento de classes de respostas para padrões comportamentais também presentes nestes diferentes contextos, (c) também possibilitando a interrelação entre diferentes ambientes atuais e históricos na vida da pessoa, (d) aumentando a possibilidade de objetivos terapêuticos mais abrangentes e efetivos, assim como (e) recursos terapêuticos de maior alcance e mais apropriados. O objetivo seria a produção de variabilidade comportamental adaptativa na vida da pessoa a partir de discriminações (autoconhecimento) dos próprios comportamentos, suas variáveis de controle para aquisição e manutenção, das motivações atuais para mudança, das consequências que produzem a curto e longo prazo e das contingências necessárias para ocorrerem as mudanças necessárias. A TMA está nos pressupostos behavioristas radicais e pode incorporar estratégias de outros modelos, sempre dentro dessa ótica. Algumas perguntas básicas como o que o cliente sabe sobre seus comportamentos, por que ocorrem, quais seus efeitos sobre si e os outros e o que seria necessário para modificá-los podem ser ótimos parâmetros de eficácia terapêutica, considerando-se que é a pessoa que vai emitir os comportamentos que afetarão o ambiente em que vive.

Resumo participante 3

A PCP é fundamentada filosoficamente no Behaviorismo Radical, opondo-se ao mentalismo e à auto-determinação da conduta, além de adotar o modelo selecionista de determinismo ambiental. Todas as ferramentas de análise funcional, assim como os procedimentos interventivos da PCP são passíveis de descrição com base nos princípios comportamentais, com ênfase no comportamento verbal. Tal ênfase justifica-se pelo fato de a maior parte das interações entre o terapeuta e o terapeutizando serem verbais. O questionamento reflexivo é o procedimento que visa levar o terapeutizando a emitir autorregras em substituição às regras emitidas por terapeutas. A emissão de regras pelo terapeuta é desaconselhada pela PCP, assim como o uso de consequências reforçadoras ou punitivas arbitrárias, por comprometerem a independência e a sensação de liberdade do terapeutizando. O uso de reforçadores naturais é preconizado em detrimento dos arbitrários, tanto para estabelecer e manter os comportamentos emitidos na sessão, como também, os relatados pelo terapeutizando e que ocorrem fora da terapia. O reforçamento diferencial é utilizado como principal estratégia de intervenção quanto aos comportamentos emitidos. As habilidades sociais são treinadas por meio do Treinamento de Habilidades Sociais Assistemático, no qual o terapeutizando é conduzido a desenvolver, ele próprio, formas assertivas de lidar com as demandas sociais.

Palavras Chave

Terapia comportamental; análise do comportamento; autoconhecimento; contingência de reforçamento; análise molar; psicoterapia comportamental pragmática

Minicurrículo do proponente

Doutor em Psicologia (UnB)
Psicólogo Clínico
Diretor, professor e supervisor do IBAC - Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento

População envolvida

Psicólogos
Estudantes de Psicologia

Perfil do público-alvo

Psicólogos
Estudantes de Psicologia

Área

Intervenção Clínica no Consultório

Autores

Hélio José Guilhardi, João Vicente Sousa Marçal, Carlos Augusto Medeiros