XXIX Encontro Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental 2020

Dados do Trabalho


Título

O FENOMENO DA ANSIEDADE NO CONTEXTO CLINICO: UMA ABORDAGEM A PARTIR DOS TRES NIVEIS DE SELEÇAO

Resumo geral

A Análise do Comportamento (AC) se propõe a fazer uma análise científica do comportamento a partir da noção de ciência proposta pelas ciências naturais. Nessa perspectiva, o comportamento é definido como interação organismo-ambiente e explicado por meio do modelo causal de seleção por consequências, considerando três níveis de determinação do comportamento: filogenético, ontogenético e cultural. Apesar de considerar os fenômenos a partir da interação entre essas três histórias, na área aplicada clínica, tradicionalmente há ênfase nas variáveis ontogenéticas no desenvolvimento de análises funcionais. A proposta apresentada, portanto, pretende esclarecer o fenômeno de ansiedade a partir de um viés mais amplo de análise e possibilidades de intervenção. O analista comportamental clínico compreende o fenômeno da ansiedade a partir de relações comportamentais, considerando o papel do ambiente histórico e atual como fonte de controle e tendo as contingências atuais como recurso terapêutico para que comportamentos mais adaptativos sejam obtidas. O primeiro trabalho caracteriza a ansiedade a partir da abordagem de variáveis filogenéticas envolvidas no desenvolvimento e manutenção de respostas ansiosas, selecionadas pela importância deste fenômeno para a sobrevivência do organismo, membro de uma espécie. O segundo utiliza as informações produzidas na literatura experimental da Análise do Comportamento sobre contingências favorecedoras desse comportamento emocional, para ampliar a compreensão sobre ansiedade a partir dos processos comportamentais de condicionamentos respondente e operante, resultante da história única de interação do organismo com o ambiente. E o terceiro tem como objetivo elucidar contingências culturais e práticas culturais selecionadas, que favorecem o desenvolvimento de padrões comportamentais ansiosos. Acredita-se que propostas deste tipo podem contribuir com a comunidade de analistas do comportamento, na abordagem integrada de informações importantes para o desenvolvimento de análises funcionais, que baseiam a sua prática clínica.
Palavras-chave: seleção por consequências; filogênese; ontogênese; cultura; ansiedade

Resumo participante 1

O comportamento humano é multideterminado e, para a AC, há três níveis de seleção para explicar a aquisição e manutenção de comportamentos. O nível filogenético é semelhante ao que é descrito pela teoria da seleção natural, reconhecida pela AC por destacar aspectos relevantes em características mantidas ao longo do tempo. Porém, sozinha essa teoria não explica toda a complexidade dos comportamentos, tornando necessário incluir a ontogênese (história individual) e fatores culturais, pois comportamentos selecionados pela filogenia podem ficar sob controle de novos estímulos, a depender dos demais níveis, e assim os três se complementam. Contudo, a filogênese exerce importante papel, pois além do fato de comportamentos selecionados neste nível traduzirem questões de sobrevivência da espécie, também envolvem eventos reforçadores ou aversivos primários/incondicionados, sendo possível aumentar a compreensão de queixas no contexto clínico. A exemplo disso, pode-se investigar queixas relacionadas à ansiedade, que são comuns na prática clínica e envolvem relações comportamentais reflexas como taquicardia, hiperventilação, sudorese, tremor, etc. Os comportamentos que caracterizam ansiedade são semelhantes aos do medo, mas estão ligados a algo que pode ou não vir a acontecer e os indivíduos tendem a emitir respostas de fuga/esquiva para eliminar, postergar ou prevenir o contato com estímulos aversivos ou até reforçadores. Neste sentido, a análise da relação filogenética com tais queixas pode melhorar a discriminação de variáveis envolvidas num contexto de espera, observando a função que a filogenia tem de preservar o organismo para que numa situação de luta, fuga ou enfrentamento as chances de adaptação sejam maiores. Embora intervenções clínicas precisem recorrer também à ontogenia e à cultura, o objetivo deste estudo é aumentar o entendimento da influência da filogenia nas queixas de ansiedade, para que os demais níveis de seleção também sejam compreendidos amplamente.
Palavras-chave: Seleção por consequências; Filogênese; Ansiedade.

Resumo participante 2

O nível filogenético possibilitou a evolução dos condicionamentos respondente e operante permitindo que os organismos pudessem se adaptar a novos ambientes. Estes processos de condicionamento estão presentes no nível ontogenético, relacionados à história de vida do indivíduo e encontram-se dentro do campo da Psicologia. O comportamento é definido como interação organismo-ambiente e tem função biológica adaptativa. Dentro dessa perspectiva, a ansiedade é considerada comportamento emocional, sendo definida e explicada a partir desta interação organismo-ambiente. Embora seja difícil de ser medida e observada, em função de sua relação com eventos privados, a ansiedade tem sido estudada experimentalmente e os dados muito têm contribuído para a área aplicada, incluindo o trabalho clínico. Uma das relações observadas inicialmente no estudo da ansiedade a partir de dados experimentais envolve a apresentação de um estímulo (inicialmente neutro) que no passado foi seguido por um estímulo aversivo e que tem como efeito a redução na taxa de respostas antes mantidas por reforço positivo, possibilitando observar seu efeito sobre o comportamento considerado normal do organismo. Outras informações provenientes do laboratório indicam que as respostas emocionais eliciadas por esse estímulo pré-aversivo também podem adquirir funções aversivas e que estímulos verbais podem vir a adquirir a função eliciadora das respostas fisiológicas (emocionais), a partir de uma associação com o estímulo eliciador incondicionado. Outros processos comportamentais têm sido estudados experimentalmente aumentando o campo de conhecimento sobre este comportamento emocional e fornecendo as bases para o raciocínio e intervenção clínica. O analista comportamental clínico, portanto, considera o papel do ambiente histórico e atual como fonte de controle do fenômeno e as contingências atuais como recurso terapêutico que promovem mudanças comportamentais. O contexto clínico amplia as possibilidades de análise de contingências, em função das diversas relações envolvidas no ambiente natural relacionadas à ansiedade.
Palavras-chave: ansiedade, ontogênese, terapia comportamental, análise do comportamento, análise experimental do comportamento

Resumo participante 3

Historicamente, a Psicologia Clínica desenvolveu-se a partir de uma perspectiva de análise individualizada e internalista, com enfoque para abordagem intrapsíquica das queixas apresentadas. No âmbito da Terapia Comportamental, embora os fenômenos comportamentais sejam abordados a partir de uma perspectiva contextual e selecionista, o enfoque para a compreensão das queixas prioriza a história ontogenética no desenvolvimento de análises funcionais, que orientam as intervenções clínicas. No entanto, o indivíduo faz parte de uma cultura composta por contingências sociais que têm função de controle em seus comportamentos. Dessa forma, contingências culturais mantidas por um ambiente social selecionam práticas específicas, que envolvem padrões comportamentais ensinados e transmitido ao longo de gerações. Nessa perspectiva, as relações comportamentais descritas como ansiedade também estão sob controle de contingências culturais aversivas, estabelecidas neste marco histórico. Transformações sociais observadas ao longo do último século voltadas para o aumento de produtividade e o advento da tecnologia, por exemplo, estabelecem contextos de influência sobre respostas ansiosas. Além disso, essas relações envolvem componentes privados ao indivíduo, que só podem ser descritos a partir de arranjos de contingências estabelecidos por uma comunidade verbal. Dessa forma, a ansiedade, além de um fenômeno experimentado pelo indivíduo na relação consigo mesmo, também envolve o comportar-se verbalmente sob controle do próprio corpo, o que necessariamente se desenvolve por meio de um viés social. Com este trabalho, pretende-se esclarecer a influência de contingências culturais no desenvolvimento de queixas de ansiedade. Embora as intervenções clínicas ocorram em nível individual, faz-se necessário ampliar o campo de análise para a compreensão ampla destes fenômenos.
Palavras-chave: Seleção por consequências; nível cultural; ansiedade.

Minicurrículo do proponente

João Vicente de Souza Marçal. Doutor em Psicologia (Universidade de Brasília). Psicólogo Clínico atuando desde 1990. Diretor, professor e supervisor dos cursos do Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC). Professor convidado dos cursos de pós-graduação em Terapia Comportamental da Universidade de São Paulo (USP) e em Análise Comportamental Clínica da PUC.

População envolvida

Adultos

Perfil do público-alvo

Alunos de Psicologia, Psicólogos e Psiquiatras, com interesse em Análise Comportamental Clínica.

Área

Análises conceituais, históricas e filosóficas

Categoria

Formação e Disseminação em Análise do Comportamento

Instituições

Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento - Distrito Federal - Brasil

Autores

JÉSSICA ALVES BARBOSA, JOÃO VICENTE DE SOUZA MARÇAL, MARINA ROCHA SOARES