Dados do Trabalho
Título
MEU CLIENTE SUMIU - FALTAS, ATRASOS E ESQUIVA EXPERIENCIAL NA TERAPIA
Resumo geral
A esquiva experiencial é um fenômeno complexo e frequente entre clientes de psicoterapia. Discutida na literatura das terapias contextuais, em especial na ACT - terapia de aceitação e compromisso - e na FAP - psicoterapia analítico-funcional - a esquiva experiencial decorre de uma contingência aversiva, em que o cliente evita naturalmente o estímulo aversivo, que podem ser inclusive eventos privados, como pensamentos, memórias e sentimentos, julgados como ruins ou desagradáveis. Ao entrar no processo psicoterápico, em muitos casos, é fundamental que o cliente faça contato com tal estímulo para auxiliar na compreensão da contingência e no desenvolvimento de um repertório de enfrentamento da situação aversivas. No entanto, psicólogos sentem-se muitas vezes desconfortáveis em bloquear a esquiva do cliente, uma vez que isso implica que o cliente sinta sua própria dor. Em decorrência disso, não raro, clientes faltam, desmarcam sessões, atrasam-se, e eventualmente, suspendem a terapia. Esta sessão coordenada tem como objetivo apresentar análise de casos em que os clientes revelaram um comportamento de esquiva frequente. O desafio foi garantir que o cliente pelo menos estivesse na sessão, e se engajassem com comportamentos de melhora. Os terapeutas desenvolveram então novas contingências para que os clientes permanecessem no processo psicoterápico. O bloqueio da esquiva na sessão ocorreu de forma suave, a fim que de os clientes entrassem em contato com os estímulos aversivos, como falar a respeito do problema, gradativamente, de forma a obter resultados consistentes. Como resultados pode-se observar maior engajamento, menor número de faltas e desenvolvimento de novo repertório comportamental.
Resumo participante 1
Compreender como ocorre a esquiva experiencial é um fator relevante para atuar na clínica. A partir da literatura da ACT - Terapia de aceitação e compromisso - pode-se descobrir inúmeros caminhos para atuar e bloquear a esquiva em consultório, incluindo até intervenções da FAP - psicoterapia analítico funcional. Um formato frequente para incentivar o cliente a pensar de outras formas e reduzir a aversidade de certos estímulos é o uso de metáforas. No entanto, em diversas ocasiões, as metáforas da literatura, embora interessante, foram desenvolvidas por autores estrangeiros, em outras décadas, e não são completamente aderentes à situações cotidianas, no Brasil, neste momento atual. Além disso, há clientes que, em razão de suas demandas, têm dificuldade em expressar sentimentos e sentem-se desconfortáveis ao falar sobre isso. De forma gradativa, é papel do terapeuta buscar maneiras para ensinar o cliente a discorrer sobre seus eventos privados, sem no entanto causar desconforto. Para isso, é possível usar novos formatos, com exercícios escritos, gráficos, emojis e vídeos, além das metáforas que façam sentido para o cliente. O presente trabalho visa destacar a construção de metáforas e outras ferramentas para lidar com o cliente, e o desenvolvimento de repertório discriminativo do terapeuta ao observar o cliente e suas reações. A partir de uma análise funcional bem construída, o terapeuta pode discriminar os estímulos mais reforçadores para o cliente na sessão e considerar a realidade e a disposição do cliente, garantindo melhores resultados.
Resumo participante 2
O presente trabalho apresenta um estudo de caso em que o cliente demonstrou diversos comportamentos de esquiva experiencial. O cliente chegou à terapia com queixas de depressão, ansiedade e ataques de raiva. Foram identificadas dificuldades de interação interpessoal, especialmente em situações de cobrança por parte de familiares ou pessoas em posição de autoridade. Também houve uma grande taxa de absenteísmo (cinco faltas em 19 sessões). O cliente relatou diversos comportamentos com a função de esquiva de eventos aversivos, compondo um quadro de esquiva experiencial. Foram utilizadas intervenções da ACT e metáforas para fazer o cliente desistir de estratégias de controle de eventos aversivos. O questionamento reflexivo foi usado para aumentar o controle discriminativo que o cliente tem sobre estímulos emitidos por outras pessoas em situação de interação, bem como para ajudá-lo a identificar eventos internos (sentimentos e privações), de forma a poder expressá-los de forma assertiva. Também foram utilizadas intervenções da FAP e bloqueio da esquiva através da facilitação das remarcações para lidar com os comportamentos de falta às sessões. As intervenções da ACT combinadas com os questionamentos reflexivos possibilitaram ao cliente comunicar suas necessidades para as pessoas de seu convívio e vivenciar eventos aversivos, como um rompimento. A estratégia de bloqueio da esquiva combinada com intervenções da FAP resultaram em diminuição das faltas.
Resumo participante 3
A esquiva experiencial refere-se a comportamentos reforçados de forma negativa, ou seja, proporcionam reforço ao passo que aliviam ou evitam contato com o estímulo aversivo. No contexto clínico, esse estímulo aversivo pode estar envolvido em parte da demanda do cliente. Por isso, ao mesmo tempo que é necessário que o sujeito entre em contato com o estímulo para que sejam analisadas as contingências e propostas intervenções, é um contato que provavelmente ele vai evitar. Nesse sentido, sendo a terapia um contexto propício para que o cliente entre em contato com esse conteúdo aversivo, desmarcar, remarcar e faltar às sessões torna-se um comportamento frequente e pode ser entendido como esquiva, a partir de uma análise de contingências do caso. O objetivo da apresentação deste estudo de caso é discutir a função da remarcação e falta às sessões de psicoterapia, além de relatar ferramentas e técnicas utilizadas em atendimento online para tornar a terapia um ambiente mais reforçador. Dessa forma, espera-se que o cliente tenha um papel mais ativo no seu próprio processo. A cliente, do sexo feminino, 35 anos, buscou a terapia por indicação médica. Sua demanda incluía diminuir os sintomas de ansiedade e aumentar sua fonte de reforços. Ao longo das sessões, observou-se maior engajamento da cliente na psicoterapia ao utilizar-se ferramentas com um viés mais lúdico e maior esquiva quando era necessário entrar em contato com assuntos relacionados a eventos aversivos na sessão ou quando eventos aversivos aconteciam próximos temporalmente da sessão. Portanto, para além de um vínculo bem estabelecido, é necessário compreender que cada cliente tem suas particularidades e que é necessário descobrir a melhor forma para acessar a demanda de cada um.
Minicurrículo do proponente
Patrícia Luque (CRP 01/10087) Doutora em Ciências do Comportamento (2017) e Mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília (2007). Possui graduação em Psicologia pelo UniCeub (2004) e em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília (1997). Professora na Clínica Brasília de Psicologia e no Instituto Continuum (Londrina-PR). Supervisora de estágio no Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC). Pesquisadora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). Psicóloga clínica desde 2004.
População envolvida
adultos
Perfil do público-alvo
estudantes de Psicologia e psicólogos.
Área
Intervenção Clínica no Consultório
Categoria
Prestação de Serviço
Instituições
IBAC - Distrito Federal - Brasil
Autores
PATRICIA LUQUE CARREIRO, FELIPE RAULINO DE SOUZA RIPPEL, GABRIELA ROSSETTI CHALELLA