XXIX Encontro Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental 2020

Dados do Trabalho


Título

METODOLOGIAS DA ANALISE DO COMPORTAMENTO PARA O ESTABELECIMENTO DE REPERTORIOS EM CRIANÇAS AUTISTAS

Resumo geral

Na Análise do Comportamento, práticas exitosas têm favorecido o estabelecimento de repertórios em aprendizes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Investigações compararam a eficiência do ensino de linguagem expressiva e receptiva, no sentido de determinar sequências de ensino mais apropriadas. O uso de roteiros fotográficos tem sido explorado para ensinar brincar de forma funcional. Discute-se sobre os efeitos de diferentes reforçadores sobre estabelecimento e manutenção de repertórios. Metodologias são desenvolvidas para o estabelecimento de intraverbais de categorias, e promoção de responder com variabilidade. Procedimentos são estabelecidos para ensinar relato de histórias. O objetivo desta Sessão Coordenada será discutir aspectos metodológicos, e possibilidades de investigações futuras, de cinco pesquisas. A primeira comparou a eficiência de duas sequências de ensino para o estabelecimento de linguagem receptiva (LRFCC) e expressiva (intraverbal FFC) em duas crianças com TEA. A segunda comparou os efeitos de duas pistas (instrução verbal e modelação) sobre aprendizagem de brincar funcional em duas crianças com TEA. A terceira comparou efeitos do acesso a duas atividades, mantidas por reforçamento natural, sobre a aquisição de imitar modelos de ações com brinquedos em uma criança com TEA. A quarta comparou efeitos de dois procedimentos sobre o estabelecimento de relatar nomes de itens de categorias, e promoção de variabilidade em duas crianças com TEA. A quinta comparou efeitos de dois procedimentos, com e sem encadeamento de trás para frente, sobre o estabelecimento de repertórios de relatar histórias em duas crianças com TEA.

Resumo participante 1

Pesquisas em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) investigaram a eficiência do ensino de linguagem receptiva e expressiva em aprendizes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Respostas de ouvinte por função, característica e classe (LRFFC) e intraverbais FFC são casos de linguagem receptiva e expressiva, respectivamente, que foram alvos de investigações. A literatura prévia demonstrou que o ensino do intraverbal primeiro foi mais eficiente, no sentido de que produziu um melhor efeito de emergência do LRFFC não ensinado relacionado, contrariando a recomendação de uma literatura tradicional, que sugere que habilidades receptivas, tais como o LRFFC, deveriam ser ensinadas primeiro. A presente pesquisa teve a meta de comparar a eficiência do treino de intraverbais e LRFFC também, considerando os efeitos sobre emergência de repertório não ensinado relacionado em duas crianças com TEA. A diferença em relação à literatura prévia foi que, durante o ensino de LRFFC, o tato (nomeação) de figuras envolvidas também foi ensinado. O propósito foi avaliar se o treino de tato aumentaria a eficiência do LRFFC. Os resultados revelaram que ambas as sequências instrucionais (ensino de LRFFC – sonda de intraverbal; ensino de intraverbal – sonda de LRFFC) estabeleceram a emergência no responder, considerando o repertório não ensinado relacionado para ambos os participantes. Entretanto, o ensino de intraverbal produziu emergência do LRFFC em menor grau para ambos. Os dados foram discutidos no sentido de que o treino de tatos, durante o ensino de LRFFC, provavelmente aumentou sua eficiência, e de que habilidades pré-existentes também influenciaram a eficiência do ensino.

Resumo participante 2

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) costumam apresentar déficits em diversos repertórios, incluindo brincar de forma funcional. Na literatura da Análise do Comportamento Aplicada, destacaram-se pesquisas que investigaram efeitos do uso de roteiros fotográficos, representando ações com brinquedos, e outros tipos de pistas sobre o estabelecimento de desempenhos independentes em crianças com TEA. O responder sob controle de fotos foi demonstrado a partir de diferentes níveis de pistas, como instruções verbais e modelação. No entanto, os estudos prévios não isolaram os efeitos de cada uma delas. O presente estudo teve como objetivo comparar os efeitos de pistas do tipo instrução verbal e modelação em duas crianças com TEA de 10 anos, e mediante um delineamento de tratamentos alternados, quanto ao estabelecimento de ações de brincar na presença de roteiros fotográficos. As intervenções foram eficazes para o desenvolvimento de desempenhos independentes em ambas as crianças. No caso de uma delas, diferenças foram mais acentuadas, com maior eficiência da pista de modelação. Para a outra criança, não houve diferenças entre as pistas quanto a eficiência do ensino. Sondas de controle de estímulos com diferentes sequências de apresentação de fotos indicaram estabelecimento do responder sob controle das fotos.

Resumo participante 3

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) apresenta estratégias para o estabelecimento de repertórios em aprendizes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). É comum o uso de reforçadores arbitrários de maior preferência. A literatura reconhece a relevância disso, uma vez que ajuda a favorecer uma melhor adesão ao ensino de repertórios em que não demonstram um desempenho preciso. A exposição ao ensino pode implicar no desenvolvimento de repertórios em um nível em que reforçadores arbitrários já não são mais necessários para sua manutenção. Nesses casos, pode-se supor que o engajamento em tais repertórios passou a ser mantido por reforçamento natural, e a literatura ainda sugere que oportunidades de emissão desses repertórios podem ser utilizadas como uma forma de reforçamento, visando o estabelecimento de novas habilidades. Na presente pesquisa participou uma criança com TEA de 9 anos. O objetivo foi comparar efeitos do engajamento em dois repertórios (parear blocos coloridos versus parear figuras idênticas), mantidos por reforçamento natural, sobre o estabelecimento de imitar modelos de ações com brinquedos. O acesso a cada tarefa de parear foi utilizado como reforçador para respostas independentes de imitação (duas diferentes ações para cada reforçador). Como resultado, 14 blocos de tentativas foram necessários para o estabelecimento de imitação, no caso em que acesso à tarefa de parear blocos foi o reforçador utilizado. Em relação ao outro caso, parear figuras, 18 blocos foram necessários. Os dados sugerem que o primeiro caso foi mais eficiente para a aquisição dos repertórios alvos. Por fim, houve manutenção das habilidades 2 semanas depois.

Resumo participante 4

Muitas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam dificuldade no desenvolvimento de intraverbais. Um caso se refere a relatar nomes de itens de categorias (e.g., diante da instrução “diga-me nomes de materiais escolares”, responder “régua, apontador e lápis”). Um estudo prévio comparou efeitos de dois tipos de ensino sobre o estabelecimento de intraverbais de categorias em duas crianças com TEA. Acertos compreenderam a emissão de nomes de pelo menos três itens de uma categoria. Erros eram corrigidos com pistas de tato e, se necessário, ecoicas. A única diferença entre os dois tipos de ensino foi o fato de que, em um deles, uma experimentadora apresentava nomes de mais itens da categoria, para cada criança, como consequência de acertos. Os dois tipos de ensino estabeleceram intraverbais para uma das crianças em uma medida semelhante. Além disso, os autores sugeriram que houve promoção de variabilidade, definida pelo relatar diferentes combinações de nomes de itens (e.g., “régua, apontador e lápis”; “apontador, lápis e régua”). Contudo, não foi realizada uma sistematização desses dados. A presente pesquisa teve características semelhantes à literatura prévia, com o objetivo de comparar os efeitos dos dois tipos de ensino mencionados sobre a aquisição de intraverbais de categorias, e promoção de variabilidade em duas crianças com TEA. Neste caso, no entanto, houve uma sistematização de dados sobre a variabilidade. Como resultado, para uma das crianças, os dois tipos de ensino foram eficazes e eficientes para o estabelecimento de intraverbais, assim como foram emitidas muitas combinações de nomes de itens diferentes. No caso da outra criança, de um modo geral, a aquisição de intraverbais aconteceu de forma mais discreta, assim como a demonstração da variabilidade também foi mais discreta.

Resumo participante 5

Recontar uma história de forma lógica e sequencial, após a mesma ter sido lida ou apresentada para quem depois deve relatar, tende a ser um grande desafio para aprendizes com Transtorno do Espetro Autista (TEA). A literatura registra práticas exitosas de ensino desse repertório por estratégias de reforçamento de desempenhos independentes, uso de pistas visuais, textuais e ecoicas de correção, assim como encadeamento de trás para frente. O presente trabalho teve por objetivo comparar os efeitos de dois tipos de ensino sobre a aquisição de repertório de relatar histórias em uma criança de 9 anos com TEA e paralisia cerebral. Foram definidas duas histórias com quatro passos (uma frase e uma imagem retratando cada passo). Para cada história foi estabelecido um tipo de ensino (um deles envolveu encadeamento de trás para frente). Como resultado, ambos os procedimentos foram eficazes quanto ao estabelecimento de relatar histórias. Entretanto, o ensino da história sem encadeamento foi mais eficiente, pois menos blocos de tentativas foram necessários para o estabelecimento de responder livre do controle de pistas. Onze blocos de tentativas foram necessários no caso da história sem encadeamento, e, até o final da coleta, 16 blocos tinham sido administrados durante o ensino da história com encadeamento, e sem que um desempenho totalmente independente fosse evidenciado.

Minicurrículo do proponente

Daniel Carvalho de Matos

Graduado em Psicologia pela Universidade CEUMA (2004), Mestre (2007) e Doutor (2013) em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Experiência com intervenções da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) destinadas a crianças, adolescentes e adultos com desenvolvimento atípico, com ênfase em autismo e quadros relacionados. Membro da Comissão de Psicologia na Educação do Maranhão (CRP-22). Professor e pesquisador do curso de Psicologia da Universidade CEUMA. Coordenador do curso de especialização "Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ao Autismo e Quadros Relacionados" pela Universidade CEUMA. Professor colaborador do programa de pós-graduação (mestrado) em Psicologia da Universidade Federal do Maranhão

População envolvida

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Perfil do público-alvo

Estudantes de graduação, pós-graduação, pesquisadores interessados no tema, e pessoas que prestam serviços baseados em ABA ao TEA

Área

Transtorno do Espectro do Autismo

Instituições

Universidade CEUMA e Universidade Federal do Maranhão - Maranhão - Brasil

Autores

DANIEL CARVALHO DE MATOS, POLLIANNA GALVÃO SOARES DE MATOS, NEYLLA CRISTHINA PEREIRA CORDEIRO, CREUZIANA XAVIER DE ARAÚJO, ANA KAROLLYNE GIGANTE DE ARAUJO SOUSA, KATIANE REIS DA SILVA, AMANDA LIMA RUBIM, BRUNA PEREIRA MENDES, CLAUDELI FRANÇA SOARES BELFORT , VLADERLICE SAMINEZ SILVA