Dados do Trabalho
Título
VARIABILIDADE COMPORTAMENTAL: CONTRIBUIÇOES DE PESQUISA BASICA, APLICADA E TEORICA
Resumo geral
A investigação da variabilidade comportamental operante tem como marco a publicação do estudo seminal de Page e Neuringer (1985). Desde então, diversas pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de investigar as contingências que determinam esse fenômeno, as possibilidades de utilização dessas contingências em contextos aplicados e as implicações teóricas da assunção da variabilidade enquanto uma propriedade operante do comportamento. Considerando isso, a presente proposta tem como objetivo apresentar duas pesquisas básicas, uma pesquisa aplicada e uma pesquisa teórica sobre o tema. No que tange às pesquisas básicas, serão apresentados dois estudos sobre reforçamento negativo do variar, um tipo de exame ainda incipiente na área. Na primeira apresentação, serão analisados, em ratos, os efeitos de dois procedimentos de extinção sobre o variar mantido por contingência de esquiva. Na segunda apresentação, serão analisados, em humanos, os efeitos de diferentes contingências de fuga, com diferentes exigências de variação, sobre o variar. No que tange à pesquisa aplicada, serão analisados os efeitos de um procedimento de ensino para promover variação de respostas intraverbais a perguntas sociais de indivíduos com TEA, utilizando contingências com diferentes exigências de variação, bem como a generalização do responder variável. Por fim, no que tange à pesquisa teórica, será analisado um conjunto de textos a fim de identificar diferentes propostas explicativas para a variabilidade reforçada, seus fundamentos empíricos e possíveis críticas a essas propostas. Espera-se com essa integração de diferentes modalidades de pesquisa contribuir para a construção de um conhecimento que permita a apreensão da totalidade do fenômeno sob análise.
Resumo participante 1
Extinção do comportamento de variar mantido por contingência de esquiva
O presente trabalho teve como objetivo investigar os efeitos de dois procedimentos de extinção sobre o comportamento de variar previamente reforçado sob contingência de esquiva. Cinco ratos machos, experimentalmente ingênuos, foram submetidos a um procedimento de esquiva em tentativas discretas, no qual estímulos elétricos (US) de 0,5 s e 0,4 mA foram apresentados em tempo fixo (FT), na presença de uma luz (CS). Respostas na presença do CS tiveram como consequência o desligamento imediato do CS, a apresentação de um tom de 0,5 s e 10 dB, e o cancelamento do próximo US programado para a sessão. Caso a resposta de esquiva não fosse emitida, o US era apresentado ao término do FT, o CS permanecia presente e uma nova tentativa era imediatamente iniciada. Após uma etapa preliminar de treino sob as contingências de esquiva FR 1 e FR 2, os animais foram submetidos às seguintes contingências: Lag 1/Ext 1/Lag 1/Ext 0/Lag 1/Ext 1/Lag 1/Ext 0/Lag 1 – três sujeitos foram expostos aos procedimentos de extinção em ordem inversa. Sob a contingência Lag 1, o cancelamento do US foi contingente à emissão de uma sequência de três respostas que diferisse da última sequência emitida na sessão. Em ambos os procedimentos de extinção, as barras estiveram inoperantes e as respostas não tiveram consequência programada. Na Ext 1, ao final de cada tentativa, o US foi apresentado. Na Ext 0, o gerador de estímulos elétricos permaneceu desligado durante toda a sessão. Como resultado, foram obtidos altos índices de variação sob a contingência Lag 1 e decréscimo nos níveis de variação sob ambos os procedimentos de extinção. Nas fases Lag 1 pós-Ext 1 e pós-Ext 0, foram obtidos índices de variação menores/maiores que os registrados na linha de base, respectivamente. Esses dados sugerem que o comportamento de variar foi controlado pela contingência de esquiva e que a variabilidade comportamental pode ter sido extinta pela suspensão da relação de dependência entre o variar e suas consequências.
Palavras-chave: variabilidade comportamental, reforçamento negativo, esquiva, extinção.
Resumo participante 2
Variabilidade comportamental reforçada negativamente em contingências de fuga com humanos
Procedimentos em que a emissão de unidades variadas é exigida para reforçamento (e.g., Lag n) e em que apenas unidades o são, mas não a variação (Yoked), em que o reforço é liberado acoplado ao primeiro procedimento, apontam para o controle operante do variar. Adicionalmente, tem-se demonstrado que os níveis de variabilidade podem ser função dos níveis da exigência de variação (e.g., manipulação do parâmetro n em Lag n). A maioria dessas demonstrações ocorreram em procedimentos com reforçamento positivo. É escassa, contudo, a literatura em que esses procedimentos ocorreram com reforçamento negativo. Fato acentuado no estudo com humanos. O presente estudo visou responder: a) se a variabilidade comportamental pode ser controlada por reforçamento negativo em contingências de fuga com humanos; e b) se os níveis de variação observados podem ser função dos níveis de exigência de variar, e se são afetados pela ordem de exposição (i.e., crescente e decrescente). Para tanto, 26 participantes, foram divididos em dois experimentos. A emissão de unidades de quatro respostas de clicar com mouse em dois quadrados em uma tela de computador poderiam encerrar estímulos sonoros de 3.000Hz e 90dB (fuga). No Experimento I, oito participantes responderam sob as seguintes condições: Lag 0 (CRF), Lag 5, e Acoplado (Yoked). No Experimento II, 18 participantes foram distribuídos em três condições: Crescente (CC): Lag 0, Lag 2, Lag 5 e Lag 8; Decrescente (CD): Lag 8, Lag 5, Lag 2 e Lag 0; e CD com Linha de Base em Lag 0 (CD0). Os dados do Experimento I indicam que o procedimento adotado produziu e controlou variabilidade comportamental. Os participantes, em sua maioria, variaram mais em Lag 5, quando comparados a Lag 0 (CRF) e Acoplado (Yoked). No Experimento II, os dados foram mais diversos, houve resultados semelhantes a literatura (maior variação sob maiores exigências) e inversos (menor variação sob maiores exigências), assim, são necessários mais estudos para afirmações conclusivas.
Palavras-chave: variabilidade comportamental, reforçamento negativo, fuga.
Resumo participante 3
A produção da variabilidade e generalização de respostas intraverbais em crianças com TEA
Os padrões rígidos e estereotipados do comportamento são características observadas em pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), tornando a investigação de maneiras sobre como produzir formas mais variadas de comportamento especialmente importante para orientar pessoas que interagem com esses indivíduos. O presente estudo tem como objetivo avaliar um procedimento de ensino para promover variação de respostas intraverbais a perguntas sociais de indivíduos com TEA utilizando Lag progressivo de 1 a 4 e verificar se a generalização do responder acontece com outra pessoa, em ambiente natural e se ela se mantém ao longo do tempo. Participaram do estudo quatro crianças diagnosticadas com TEA que realizaram um procedimento de ensino de seis diferentes respostas intraverbais por meio de fading out de estímulo verbal e ensino de respostas variadas com Lag progressivo de 1 a 4. Fases de testes em ambiente de treino, ambiente de treino com outro aplicador e em ambiente natural aconteceram antes e depois do ensino de respostas intraverbais, depois do ensino de respostas variadas e após duas semanas do término do procedimento (follow-up). Os resultados apontaram que o Lag progressivo foi eficaz para promover o responder variado para todos os participantes, com variação proporcional a exigência do Lag (quanto maior o Lag, maior foi a variação). Também foi possível verificar que todos os participantes emitiram respostas ensinadas e novas na Fase de Ensino de Respostas Variadas. Os dados de análise da generalização apontam que o responder variado ocorreu em maior porcentagem ambiente de treino, seguido de ambiente de treino com outro aplicador e apareceu em menor porcentagem em outros locais e ao longo do tempo.
Palavras-chave: comportamento verbal, intraverbal, variabilidade, generalização e transtorno do espectro do autismo.
Resumo participante 4
Interpretações para a variabilidade comportamental reforçada: uma apresentação comparativa
Diferentes estudos reportaram o aumento da variabilidade comportamental sob esquemas que reforçam diferencialmente respostas ou sequências de respostas que variam de acordo com algum critério experimentalmente estabelecido (e.g. lag e limiar), ao que se denomina variabilidade reforçada. Apesar da regularidade e generalidade com que esse resultado foi produzido, há pouco consenso na literatura sobre o que o explicaria. Tendo o objetivo de identificar as diferentes interpretações existentes para a variabilidade reforçada, seus fundamentos empíricos e possíveis críticas a essas interpretações, foram analisados 26 textos, entre artigos teóricos, de revisão da literatura e estudos experimentais sobre variabilidade comportamental. As interpretações encontradas foram sistematizadas em dois grupos: interpretações da variabilidade como uma dimensão operante reforçável diretamente e da variabilidade como subproduto de outros processos comportamentais. No primeiro grupo, encontram-se: o uso de eventos randômicos, a variabilidade baseada em memória e a hipótese do gerador randômico endógeno, as três propostas por Neuringer em sua teoria tripartida da variabilidade operante; variar como uma classe operante generalizada ou de ordem superior; e variação entre alternar e repetir. No segundo grupo, encontram-se a interpretação da variabilidade como um efeito secundário do reforçamento do alternar; e a de seleção negativa dependente da frequência ou hipótese de balanço. Discutiu-se as relações entre as diferentes interpretações e algumas questões enfrentadas por outras agendas de pesquisa foram relacionados às interpretações analisadas, discutindo-se problemas colocados para o estudo da variabilidade comportamental.
Palavras-chave: variabilidade comportamental, interpretação, teorias científicas, variabilidade operante, Análise do Comportamento.
Minicurrículo do proponente
Os proponentes são pesquisadores nos níveis de Mestrado e Doutorado e suas respectivas orientadoras de pesquisa, que concluíram ou estão em desenvolvimento de suas Dissertações e Teses em dois Programas de Pós-Graduação em Análise do Comportamento de instituições diferentes (PUC-SP e USP).
População envolvida
Tratam-se de pesquisas com sujeitos não-humanos, com participantes humanos típicos, participantes humanos atípicos e pesquisa teórico-conceitual.
Perfil do público-alvo
Atividade destinada a interessados no conceito de variabilidade comportamental.
Área
Processos Comportamentais Básicos
Categoria
Outro
Instituições
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo - Brasil, Universidade de São Paulo - Tocantins - Brasil
Autores
AMILCAR RODRIGUES FONSECA JÚNIOR, EMERSON FERREIRA COSTA LEITE, HELENA DURAN MELETTI, RANIEL BARBOSA DE ALMEIDA SILVA, MARIA HELENA LEITE HUNZIKER, NILZA MICHELETTO